quinta-feira, 7 de maio de 2009

Crise: Crime e Castigo, por Paulo Timm

paulo.

gostei mas leia meu do "terror a esperança".

theotonio

---------- Mensagem encaminhada ----------

Subject: CRISE, CRIME E CASTIGO= Paulo Timm - www.alexania.tv


------------------------------------------------------------



Editorial - CRISE: CRIME E CASTIGO




FRASE DO SÉCULO: "Não podemos mais usar Keynes, simplesmente não há recursos para estas fórmulas". : James Callaghan - Primeiro Ministro britânico nos anos 70

A famosa frase do Ex-Ministro britânico foi relembrada no dia 13 passado ,em um artigo do Deputado Fernando Gabeira, na Folha de São Paulo. Já na década de 70, muito antes do que o século XX acabasse e que sobreviesse a grande crise que abala ,desde outubro de 2008 ,o mundo inteiro, dizia ele que não haveria mais chance de usar as ferramentas keynesianas para debelar eventuais recessões econômicas porque já não havia dinheiro (público) suficiente. Imagine-se hoje, depois que a bolha financeira inchou a renda mundial de uma maneira sem precedentes na história , sem deixar sequer rastros de sua voracidade nos cofres públicos por onde passou "voando". O dinheiro virtual , inflado pela telemática, multiplicou-se na forma de renda real para milhares de pessoas que dele se beneficiaram, contribuindo, até, para uma aceleração visível da economia real e do comércio mundial. Mas não se refletiu em paralela capacidade dos Estados Nacionais para fortalecerem suas respectivas receitas públicas. Cumpriu-se o objetivo dos neo-liberias: Os governos se enfraqueceram. E agora, diante da crise, vêem-se em dificuldades para poder cumprir o dever de casa keynesiano que consistiu, desde 1933, no auge da crise de 29, quando a mão invisível do mercado se furtava à retomada do crescimento, na recuperação da Demanda Efetiva. Sim, com letra maiúscula, desde Keynes. Porque substantivada como um princípio básico da Economia Política. Há, aliás, economistas contemporâneos que afirmam haver apenas dois grandes princípios ou leis na Economia: A Demanda Decrescente e a Demanda Efetiva, aí dividindo-se os acadêmicos sobre a primazia da primeira, caso dos ortodoxos, e o da segunda, os heterodoxos, onde se aninham os inspirados em Keynes. Para compensar, pois, de uma forma que poderíamos dizer "plástica", a falência do Consumo e do Investimento Privados , agregados principais da Demanda Efetiva, na crise, o Estado deveria elevar seus gastos , preferencialmente em obras públicas ou investimentos produtivos, até o ponto em que se viesse a sentir recuperação nos níveis de emprego e renda. Esse nível, nos anos 30, chegou a 60% da renda nacional em alguns países. E não foi suficiente para uma adequada recuperação, o que veio a ocorrer somente na segunda metade da década de 30 com a corrida armamentista que desembocaria na Segunda Guerra Mundial. Não há portanto, dinheiro público que dê conta das crises capitalistas. Ele mitiga, ameniza efeitos desastrosos, mas se não conseguiu resolver a crise nos anos 30, muito menos nos dias de hoje. Mas desde que 'a velha toupeira' (capitalismo) cava sua morada na história da humanidade, separando as decisões de investir das decisões de consumir, ainda que dourando a pílula dos produtos oferecidos com as máscaras da sedução capazes de fazê-las "desejadas", não há crescimento sem crise. A crise é da natureza mesma do capitalismo. Ela "limpa" o convés, reconcentra o capital, dá até saltos tecnológicos com vistas à diminuição dos preços dos produtos e cria o ambiente favorável ao "renascimento" da economia. Faz tudo isso com muita "naturalidade", semeando miséria, desemprego, tensões políticas e até guerras, cabendo-nos , como povo, nação, Governo, um olhar atento e preocupado, porém, impotente.

Claro que a existência de um sólido bloco de bancos estatais e de grandes empresas com elevada densidade tecnológica, como fábricas de aviões, sob o controle público, colaboram para um programa de saída da crise. Esse é o caso do Brasil que já deveria, em vez de sustentar obsoletas fábricas de automóveis do ABC, ter nacionalizado a EMBRAER, tal como, aliás, fez a Argentina , ontem, com sua equivalente , também privatizada há alguns anos. Como deveria, também, ter aproveitado a inusitada oportunidade, para baixar drásticamente a absurda taxa de juros que sangra o país e ,particularmente, as receitas públicas (na hora em que elas são mais necessárias para compensar o hiato na Demanda Efetiva). Dizer que a crise é inevitável, enfim, e que somos relativamente impotentes para eliminá-las definitivamente, não quer dizer que fiquemos apenas contemplando o desastre, ou minimizando seus efeitos. Mas embora tenhamos linhas gerais de atuação compensatória, indiscutivelmente ligadas à intervenção do Estado, a melhor indicação ainda é o diálogo nacional , um diálogo franco e profundo, ao qual sejam chamados não os áulicos de sempre, assessores e ministros da conveniência politico-partidária, movimentos sociais mais das vezes comprometidos com o corporativismo cego, mas a inteligência Sim , a inteligência, sem preconceitos, cevada na vasta experiência à frente de empresas e órgãos públicos ou na incansável trajetória da sua vida acadêmica.

Sábias palavras, pois, de Callaghan, nos anos 70. Mas surdas aos que ainda creem possível enfrentar a crise com apenas alguns "bilhões" distribuidos quase aleatoriamente. O neo-liberalismo só agudizou o caráter contraditório da economia capitalista. Foi um crime contra a humanidade. Agora estamos sofrendo seu castigo porque não fomos capazes de impedir sua hegemonia nas políticas governamentais.

PAULO TIMM , Economista - Ex Presidente do Conselho Regional de Economia DF , Professor UnB.

Nenhum comentário:

Busca